Ao final de 1896, 23 casos de danos severos causados por raios X haviam sido registrados em revistas científicas. Mesmo assim, o entusiasmo pela nova tecnologia fez com que muitos atribuissem os danos a outras causas (eletricidade, ozônio, equipamento defeituoso) que não aos próprios raios X. Um físico americano, Elihu Thompson, propôs-se a investigar o assunto, tomando a sí mesmo como cobaia. Tendo colocado a extremidade do dedo mindinho esquerdo a uma distância de aproximadamente 4 cm de um tubo de raios X por meia hora, não observou efeitos imediatos. Uma semana mais tarde, entretanto, o dedo tornou-se avermelhado, extremeamente sensível, inchado, rígido e dolorido, tendo Thompson concluído que "Evidentemente existe um ponto além do qual a exposição não pode continuar sem causar sérios problemas". Passadas mais algumas semanas, em carta a um colega, ele descreve um agravamento em sua condição:
"Eu não proponho repetir o experimento...toda a epiderme se desprendeu da parte posterior e das laterais do dedo, enquanto o tecido, mesmo debaixo da unha, encontra-se embranquecido e provavelmente morto, pronto para cair...O ferimento é muito peculiar e eu nunca vi algo parecido. Ele continuou a se desenvolver e espalhar sobre a superfície exposta por três semanas e não tenho certeza de que a doença atingiu seu limite."
A ampla divulgação do experimento de Thompson levou muitos radiologistas a se preocuparem de forma mais efetiva com a proteção, tanto de si próprios como de seus pacientes, e as primeiras medidas neste sentido passaram a ser tomadas, tais como a utilização de escudos de chumbo e o uso de filtros e diagramas para limitar a intensidade e a área atingida pelo feixe.
Conhecido o início da aplicação dos raios X na medicina, apresentamos agora duas das questões que mais preocupam, hoje, as pessoas em relação ao emprego dos raios X no tratamento de sua saúde, para, a partir delas discutirmos os riscos e benefícios desse tratamento.
Se uma mulher for submetida a um tratamento com irradiação sem saber que estava grávida, este fato poderá trazer algum comprometimento para o filho que ela está esperando?
A avaliação dos efeitos das radiações sobre um sistema vivo deve ser conduzida com muito cuidado, uma vez que diversos fatores devem ser considerados e a complexidade do organismo irradiado, notadamente do Homem, dificulta, em muitas ocasiões uma relação direta entre causa e efeito.
Quando um ser vivo é submetido a doses de radiação poderão surgir conseqüências indesejáveis que podem ser classificadas de modos variados:
A avaliação da relação entre um determinado efeito com a dose de radiação para o ser humano é muito difícil de ser feita. Obviamente não podemos submeter o Homem a um experimento para estudar os efeitos das radiações. Por este motivo, o que sabemos é decorrente do estudo exaustivo de grupos humanos que foram expostos a doses relativamente elevadas de radiação e também de extrapolações de resultados experimentais realizados com animais de laboratório. É evidente que várias "coincidências" históricas também têm sido consideradas, como o fato do aparecimento de radiodermite nas mãos de um técnico que operava ampolas de produção de raios X e em outro que testava o funcionamento destas ampolas expondo suas próprias mãos.
Em 1902 foi observado o primeiro caso de câncer radioinduzido na pele de um fabricante de tubos de raios X. Nos anos seguintes muitas descrições semelhantes foram relatadas na literatura médica, de modo que, em 1922, cerca de 100 médicos radiologistas eram considerados falecidos em conseqüência de ficarem expostos a elevadas de doses de radiação.
De uma maneira específica, quando consideramos o possível efeito de uma irradiação de um indivíduo, ainda no útero materno, os efeitos somáticos devem ser considerados devido a potencialidade teratogênica das radiações. No desenvolvimento do Homem, assim como dos outros mamíferos, o organismo forma-se a partir da fecundação do óvulo pelo espermatozóide que acarreta a formação de uma célula - ovo que, após sofrer clivagem, fixa-se à parede uterina, o que constitui a fase de implantação ou nidação. Depois do aparecimento da placenta, ocorre intensa divisão celular, diferenciação e organogênese, etapas que caracterizam o período embrionário, cujo término marca o início do período fetal, que se estende até o nascimento.
As informações obtidas a partir das observações dos efeitos da radiação nos diversos grupos de humanos que têm sido expostos, assim como da extrapolação de resultados experimentais com animais tem permitido sugerir que irradiações realizadas:
Um homem poderá ficar impotente devido a ter sido submetido a um tratamento com grandes doses de radiação?
Embora as alterações estruturais e funcionais dos tecidos irradiados variem acentuadamente com a sua natureza, alguns aspectos gerais podem ser apontados, tais como a inibição de mitoses e o aparecimento de aberrações cromossômicas. Processos hemorrágicos e edemaciação, relativamente freqüentes, traduzem modificações no sistema vascular ou na permeabilidade, enquanto a remoção dos restos celulares é explicada pela intensa fagocitose local.
Efeitos localizados podem ocorrer quando somente um determinado segmento anatômico é exposto às radiações, como em certos tipos de acidentes ou em pacientes submetidos à radioterapia. No caso da irradiação de corpo inteiro, podem ser observados, nos diferentes órgãos e aparelhos, efeitos semelhantes.
Os efeitos localizados podem ser :
As gônodas, em particular, são bastantes radiossensíveis e, assim, a esterilidade temporária ou definitiva pode ser provocada pela radiação. Nos testículos, as espermatogônias são mais sensíveis do que os espermatócitos e as espermátides. Entretanto, a impotência não tem sido relacionada como um efeito da radiação.